Os supermercados da capital e da Grande São Paulo estão adotando uma medida emergencial: a limitação na venda de pacotes de arroz. Esta iniciativa, que visa evitar a escassez do produto devido a uma corrida às prateleiras, tem gerado consequências diretas no setor de bares e restaurantes, que já sente o impacto no aumento dos preços e na dificuldade de manutenção dos estoques.
A tragédia no Rio Grande do Sul, principal produtor de arroz do Brasil com 70% da produção nacional, é a causa raiz desta crise. As enchentes que atingiram o estado resultaram na perda de aproximadamente 8% das lavouras gaúchas. Este desastre natural provocou uma queda significativa na oferta do produto, refletindo diretamente nos preços praticados em todo o país.
O Sindicato de Bares e Restaurantes de São Paulo (SindResBar) expressa preocupação com a medida de limitação adotada pelos supermercados. “Esta ação está elevando os preços do arroz, o que prejudica diretamente nosso setor. Muitos estabelecimentos estão tendo que reajustar seus cardápios ou procurar alternativas mais caras, o que pode afastar clientes e reduzir margens de lucro já apertadas”, afirma o vice-presidente do SindResBar, Nei Jorge Feniar.
Para coibir abusos e garantir a transparência nos preços, o PROCON de São Paulo iniciou um monitoramento rigoroso do preço do arroz. Desde o último dia 15, a entidade está acompanhando semanalmente a oferta do produto e verificando possíveis oscilações nos valores. Este monitoramento é crucial para ajudar os consumidores a tomarem decisões informadas e evitar especulações infundadas sobre a disponibilidade do arroz.
A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) destacou que, apesar das perdas no Rio Grande do Sul, a situação não é de desabastecimento. Mais de 80% da área plantada com arroz já foi colhida em todo o Brasil, e outros estados produtores estão compensando parte das perdas. Além disso, o governo federal adotou uma medida para mitigar os impactos: a isenção do imposto de importação para três tipos de arroz até o final do ano. Esta decisão visa facilitar a compra de 100 mil a 200 mil toneladas do produto no exterior, garantindo o abastecimento interno.
Mesmo com estas ações, os preços do arroz têm subido. A Associação Paulista de Supermercados (APAS) informou que o preço da saca de arroz aumentou 17%, e este aumento foi repassado aos consumidores. Em alguns casos, a variação de preços é alarmante: pacotes de 5kg de arroz registraram uma alta de 19%, enquanto o pacote de 1kg de arroz integral teve um aumento de 25%.
Para os bares e restaurantes, estas flutuações representam um desafio adicional em um cenário já complicado. O SindResBar enfatiza que, embora os preços não sejam tabelados, a prática de limitar a venda de arroz deve ser comunicada de forma clara aos consumidores, conforme prevê o Código de Defesa do Consumidor. O PROCON-SP reconhece a excepcionalidade da situação e justifica a limitação quantitativa como uma medida necessária para combater a especulação e garantir que mais consumidores tenham acesso ao produto.
Os consumidores que se sentirem lesados podem denunciar eventuais abusos aos órgãos reguladores, como a CONAB e o Ministério da Agricultura, ou diretamente à Justiça. O PROCON-SP, em parceria com o DIEESE, também realiza mensalmente uma pesquisa de preços da cesta básica, incluindo o arroz, para monitorar o mercado.
Em suma, a crise no abastecimento de arroz está afetando não apenas os consumidores finais, mas também setores econômicos inteiros, como o de bares e restaurantes. A limitação na venda, embora compreensível diante da calamidade no Rio Grande do Sul, precisa ser gerida com transparência e responsabilidade para minimizar os danos e evitar a especulação desenfreada.